Dezoito horas. A penumbra da noite começa a cair sobre a pequena casa isolada no alto da colina. Quem passa pela estrada não consegue imaginar como alguém pode viver ali. Cândida mora na casinha com seu único filho, Thiago, de cinco anos, não por opção, mas por ter sido a única saída quando foi abandonada pelo marido depois de um casamento conturbado. Começa a procurar pelas velas que acenderá nos dois pequenos cômodos, quando batem à porta. A mulher se assusta, nunca aparece ninguém nesse recanto afastado do mundo. Quem seria? Ao abrir depara-se com uma senhora negra, a avançada idade denunciada pelos cabelos totalmente brancos. - Minha filha, me dê um copo com água pelo amor de Deus, estou andando desde o meio-dia e já não agüento mais de cansaço e sede. Cândida olhou para aquela mulher e sentiu profundo dó, usando roupas surradas e carregando uma imensa sacola, deveria realmente estar muito cansada. - Entre dona, sente um pouco que lhe darei água e um cafezinho. - Muito obrigada, minha querida, vou aceitar. Em poucos minutos ambas trocam informações e conhecem um pouco da vida sofrida de cada uma como se fossem velhas conhecidas. De repente do quarto contíguo vem um gemido. - Seu menino está doente, minha filha? - Está dona Maria, com um febrão enorme, já fiz de tudo e ela não baixa, hoje já chorei demais e se ele não melhorar, sairei de madrugada para procurar socorro médico.
- Vamos lá ver isso. Sou benzedeira sabe? Na meia hora seguinte, dona Maria tomou conta da situação, abriu sua sacola, tirou ervas, mandou que se preparasse um banho, com outras pediu que Cândida fizesse um chá. Banhou o menino, deu-lhe o chá, sentou-se com ele no colo e rezou por muito tempo. Findas as orações, colocou o garoto adormecido na cama, a febre havia passado. A mãe não sabia como agradecer aquela senhora. Ofereceu-lhe pousada. - Não minha filha, tenho que ir, muita gente me espera. Deu algumas ervas com as recomendações necessárias para seu uso e dirigiu-se para a porta agradecendo e se despedindo. De súbito virou-se e perguntou: - Minha filha, só uma pergunta. Aquela vela em seu altar queimando, é para quem? - Ah dona Maria, aquela vela, mantenho sempre acesa para a Mãe Cambinda, minha preta-velha de devoção! - Que linda é a fé não minha querida? Bem tenho mesmo que ir, até um dia! Com seu andar vagaroso afastou-se. Quando já estava a uns dez passos virou-se: Minha filha! - Sim? Respondeu a moça - Obrigado! - Obrigado por quê? Eu que tenho que agradecer. E a velha senhora respondeu: - Obrigado pela vela, minha querida... Pela vela! Virou-se novamente para o caminho e sob os olhos marejados de Cândida, Mãe Cambinda da Guiné desapareceu no ar
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