segunda-feira, 28 de março de 2016

Pombagira da Madrugada

Quem eu era e quem eu sou...

Essa é minha história, como eu vivi e como me tornei um Pombagira. Desde muito nova eu fui criada por minha madrinha - mulher de frios costumes cristãos, muito rígida e dissimulada. A sociedade a tratava como benfeitora, mas na verdade, ela usava seu nome e suas posses para acumular riqueza e destruir famílias. Com a promessa de fornecer uma boa educação às moças do interior, ela as batizava quando pequenas e depois as buscava para morar com ela. Mas, a realidade era bem diferente...
Eu fui uma dessas moças pobres, que a família acreditou na promessa de uma vida melhor. Quando ela me tirou da casa de meus pais para levar-me à capital parisiense, eu tinha 11 anos. A família receberia todo mês uma mesada para poder se manter em troca de minha permanência na capital. Recebi aulas de etiqueta, piano, música, artes, matemática e francês. Tornei-me uma moça recatada e de fino trato. Em dois anos eu era um exemplo de moçoila bem educada!
Ela me levou às melhores lojas e me vestiu com esmero. Depois fez um baile para apresentar-me à sociedade. Em minha "Festa de Debutante" haviam muitos homens e algumas mulheres de alcunha duvidosa. Fui apresentada à todos, sem perceber no começo do que se tratava. Ao final do baile ela anunciou o leilão de minha virgindade e depois minha venda ao Cabaré que melhor pagasse. Fiquei desesperada quando percebi a real intenção de tudo, tentei fugir, mas a casa era bem guardada.
O leilão aconteceu e pelo burburinho percebi que eu era "uma das peças mais valiosas de sua coleção". Pagaram muito bem pela minha primeira vez. Um senhor, ouvi dizer que era um senador, foi quem me arrematou. Ele me levou para o quarto e não tardou em fazer o serviço. Fui usada de muitas maneiras e não pude reagir. Depois de uma noite inteira de aproveitamento, o senador entregou-me para a Dona de um Cabaré famoso.
O tempo todo pensei em minha família e em como voltaria pra casa. Eles precisavam do dinheiro que recebiam, então me conformei com meu destino. Cada noite, um cliente diferente desfrutava de muitas horas comigo. Por um mês eu fui novidade e fui disputada. As outras meninas diziam que eu seria como elas: apenas mais uma depois disso.
Mas, algo dentro de mim se modificou e eu passei a lutar obstinadamente pela minha vida e tornei-me diferente. Passei a seduzir e aprendi todas as artes do prazer e da luxúria. Em pouco tempo eu sabia dar a um homem tudo o que ele desejasse e tornei-me uma das preferidas do Cabaré. Após um ano, eu não era mais uma menina, eu era uma mulher sedutora e confiante. Ganhei a confiança da dona e passei a treinar outras meninas. De onde eu sabia tudo aquilo e como havia aprendido? A resposta, provavelmente, estava em outras vidas...
Após dez anos eu acumulei uma fortuna, ajudei minha família, mas nunca mais fui visitá-los, pois eu não era mais a doce menina que saiu de casa. Comprei minha liberdade e montei meu próprio Cabaré. Porém, eu fiz diferente de minha "madrinha", eu buscava as moças pobres da região, mas lhes contava a verdade sobre sua situação. Pagava um bom dinheiro à família e as levava comigo, treinava-as e lhes ensinava como não sofrer... Se houvessem meninos dispostos a ir comigo, eles se tornavam serviçais ou também podiam trabalhar na arte da sedução. Afinal, haviam mulheres dispostas a pagar muito bem por prazer.
Um dia visitei de forma disfarçada a minha madrinha, para agradecer-lhe o que fez por mim. Levei comigo cicuta e antes de sair despejei o veneno em seu chá... No outro dia eu soube que ela falecera durante a noite de mal súbito. Eu estava vingada! Não poderia ter minha antiga vida, mas ela não poderia ferir mais nenhuma menina. Esse ato, porém, não me deu paz de espírito. Eu não poderia voltar a ser a mesma pessoa, mas quem eu era, também não me deixava feliz...
Trabalhei por mais dois anos; treinei muitas meninas e escolhi uma para assumir meu lugar. Então, preparei-me para sair em viagem e fui conhecer o mundo. Eu descobri que estava com tuberculose e não teria muito tempo de vida. Minha viagem seria uma despedida de tudo. Consegui viajar por seis meses e quando estava na Índia, visitei um mosteiro... Procurei um monge e contei-lhe minha história. Ele me falou da reencarnação, do perdão e de uma nova chance. Ele me contou muitas histórias de santos e deu exemplos de grandes líderes que se transformaram.
Ele me convidou a pernoitar no mosteiro e eu morri ali, em paz, numa paz que há muito tempo eu não sentia! Quando cheguei ao outro lado eu fui recebida por outras moças com situação semelhante a minha e fui convidada a trabalhar com elas. Fui treinada e recebi uma roupagem fluídica, com um nome e uma missão: recolher as almas de outras moças perdidas. Assim tornei-me uma Pombagira e passei a trabalhar no Plano Espiritual. Foi uma forma de quitar minha dívida por tirar uma vida humana e de encontrar minha redenção pessoal.

Pai Serafim de Aruanda

O Mensageiro de Ifá.

Serafim nasceu em Senzala Carioca, no ano de 1673. Seus pais eram escravos convertidos ao catolicismo e por isso ele recebeu o nome de "Serafim" - o Mensageiro do Senhor. Ele foi uma criança travessa, mas obediente, que aprendeu desde cedo o catecismo. Mas, algo dentro dele se incendiava quando ouvia falar dos Orixás. E assim, sempre que podia, Serafim ia até a casa de Nega Nhonha, a benzedeira da Senzala. Ele lhe pedia que contasse as histórias dos Santos Africanos e de suas tribos.
Nega Nhonha percebeu que ali estava alguém para prosseguir com sua missão e começou a ensinar ao menino tudo o que sabia da tradição. Procurou a mãe de Serafim e lhe pediu permissão para educar o menino. Josefa, a mãe de Serafim, fez apenas uma ressalva: não queria que o menino sofresse perseguições. Então Nega Nhonha ensinava, mas pedia a Serafim que não comentasse com ninguém o que aprendia.
Quando Serafim completou 17 anos, o ano de 1700 iniciou... D. Josefa ficou doente e parecia ter pouco tempo de vida. Antes de morrer ela pediu ao filho: "Meu filho, quando você puder fuja dessa vida, vá para o Quilombo e pratique a arte de nossos ancestrais. Não esqueça do que aprendeu por aqui, mas também não esqueça nossas raízes". Serafim viu sua mãe morrer e ficou só no mundo. Nunca soube quem era seu pai, pois ele foi vendido logo após seu nascimento.
Serafim já ouvira falar dos Quilombos, mas era difícil fugir da Senzala. Aqueles que haviam tentado foram capturados e açoitados até a morte, para servir de exemplo aos demais. Mas, Serafim, começou a sentir crescer sua vontade de fugir, cada vez maior e incontrolável... Um dia programou sua fuga junto com outros negros. Eles partiriam para um Quilombo nas bandas das Minas Gerais, um local novo e ainda desconhecido.
O dia combinado chegou e ele muniu-se de coragem. Prepararam tudo com antecedência e durante a noite agiram conforme o plano. Muitos capatazes ficavam a espreita, mas eles haviam colocado uma espécie de sonífero na bebida deles e estavam aguardando o mesmo fazer efeito. Quando a bebida fez efeito, eles se reuniram e partiram.
Os escravos seguiam a pé, pelo meio das matas. Eles sabiam que quando o dia amanhecesse seriam perseguidos a cavalo pelos capatazes. Um dos foragidos conhecia as matas e o caminho para o Quilombo, pois já havia seguido com outro grupo certa vez, mas foi capturado - ele sobreviveu porque se entregou e não lutou, então suas chibatadas foram mais amenas.
Com três dias andando a pé, ainda faltava muito para chegar... Eles seguiam devagar e na espreita, mantendo a cautela para não serem descobertos. Naqueles tempos, eles poderiam ser presos por qualquer fazendeiro e entregues ao antigo patrão mediante recompensa. Portanto, eles não podiam ser vistos por nenhuma pessoa. Muitos de sua raça eram contratados dos patrões para entregar os fujões, então eles não podiam confiar em ninguém que não fosse do grupo.
O grupo conseguia avançar em torno de 50 Km por dia e, no final de uma semana, chegaram ao destino. Eles foram bem recebidos pelo chefe do Quilombo e descobriram as vantagens de viver em meio aos "calhambolas". Os Quilombos das Minas Gerais, diferente de outro Quilombos, possuíam algumas vantagens: eram próximos às feiras, podiam comercializar seus produtos e não eram perseguidos pelos Senhores do Mato. Minas Gerais estava crescendo muito e toda mão de obra era bem vinda. Assim, quem vivia nos Quilombos comercializava livremente com os mineradores e podia frequentar as feiras.
Foi nesse meio que Serafim encontrou sua história e reconstruiu sua vida. Começou trabalhando como minerador e trocando com os capitães seus achados, mas em breve sua vida mudaria novamente. Dois anos depois de estar no Quilombo, uma pessoa chegou gritando às pressas por alguém que soubesse curar mordida de cobra. Havia no Quilombo uma Mãe Preta que benzia, mas ela estava adoentada e não atendia mais... Serafim, muito timidamente, ergueu sua mão e disse: "-Eu sei." Os demais até duvidaram, pois ele ainda era jovem e não parecia um benzedor. Mas, na falta de recursos, qualquer um servia... O negro correu e pegou Serafim pela mão, levando-o até a vítima, que já estava semi-morta. Era uma bonita moça, grávida de uns sete meses.
Serafim afastou-se, foi até umas plantas, colheu umas ervas, macerou-as e pediu água quente. Fez um chá e reservou. Com um canivete, fez uma cruz no local da picada e apertou... Depois colocou o sumo das ervas aquecida e enfaixou com um pano. Deu o mesmo sumo para a moça beber e avisou: terei que fazer a criança nascer para que a mãe possa se recuperar melhor.
Naquele tempo, criança de sete meses não sobrevivia e o pai escolheu a vida da mãe. Serafim tinha outros planos e clamou aos seus Orixás pela vida do rebento. Fez suas orações e mandigas e começou a pressionar o ventre da moça. Em pouco tempo ouviu-se o choro de uma criança - era um menino. Serafim disse: tragam leite de cabra e chá de arruda. Deu o chá de arruda para a moça que vomitou muito... Lavou suas parte íntimas com o chá misturado ao sumo e envolveu-a em faixas. Pediu cobertor e disse: ela precisa descansar. O leite de cabra é para o bebê, ele não pode beber leite humano ou de vaca. Enfaixem bem o bebê e não o deixem tomar qualquer friagem ou sol, por sete dias. Somente depois disso, podem trocá-lo e levá-lo a outro lugar...
Depois de uma semana, mãe e filho estavam recuperados e a fama de Serafim correu Quilombos. Começaram a vir pessoas doentes de todas as regiões e até mulheres com problemas para parir procuravam por Serafim. Todos confiavam nele, pois ele era muito respeitoso e as mulheres não corriam qualquer risco. Assim, os anos passaram e Serafim tornou-se o "médico" dos Quilombos. Mas, brancos também o procuravam, quando a medicina dos homens não funcionava mais. Ele se tornou tão respeitado que até os Sinhozinhos o mandavam chamar se algum problema mais sério caísse sobre suas fazendas.
Dez anos depois, Serafim ainda era um homem solteiro. Mas, ele precisava da ajuda de alguém, pois seus serviços eram muito solicitados. Um dia chegou no Quilombo uma negra fugida de Pernambuco. Ela estava muito judiada e Serafim não conseguiu salvá-la. Ela tinha uma filha de quinze anos e disse pra ele: "-Por favor, tome minha filha como esposa, pois sei que você é sozinho. Eu vejo que você é um bom homem e precisa de alguém para ajudá-lo. Ela sabe fazer de tudo e poderá auxiliá-lo nos atendimentos." Serafim temia casar-se, pois havia visto o sofrimento das mulheres e isso o incomodava. Sua mãe havia sido violentada muitas vezes e ele guardava essa dor consigo. Muitos não sabiam, mas ele não havia dormido com nenhuma mulher. Quando a mãe da moça morreu ele levou-a para morar com ele e não a tocou...
Com o tempo, ela aprendeu tudo e o auxiliava nos atendimentos. Ninguém sabia que eles viviam como irmãos. Mas, uma noite, Margarida (esse era o nome da jovem) foi até leito de Serafim e disse: "-Você não me deseja?" Ele respondeu: "-Fiz uma promessa aos meus deuses para que eles me ajudassem nas curas e prometi não me deitar com ninguém." Margarida respondeu: "Façamos outra promessa... Todos os nossos filhos serão Deles e Eles terão servos fiéis, pois os educaremos para isso." Então, Serafim respondeu: "Preciso de três dias..."
Serafim, instruiu Margarida e se ausentou para as matas por três dias. Fez seus rituais e conversou com os Orixás. Então, uma pomba branca lhe pousou no ombro e arrulhou em seu ouvido. Era uma resposta de Ifá e Serafim sabia o que devia fazer.
Ele voltou ao Quilombo e disse a Margarida: "-Podemos nos casar. Nossos filhos serão como os Odus do Búzio." E eles tiveram dezesseis filhos e cada filho pertencia a um Orixá. Quando o último filho completou 16 anos, Serafim o preparou e avisou: "-Você ocupará meu lugar." Ele era filho de Ifá e chamava-se Orumimaia. Serafim, morreu aos 72 anos em seu leito, quando todos os Orixás lhe saudaram e disseram: "-Você fez bem. Você cumpriu sua missão!" Serafim fechou os olhos para a terra e abriu os olhos espirituais, passando a cumprir uma nova missão: a de Pai Velho.

Cigano Juan Pablo de Castañeda

O nome "Juan" era muito comum entre nosso povo e da mesma forma o nome "Pablo". Entre nós era normal recebermos dois nomes de batismo. Um nome indicava a origem materna e o outro nome a origem paterna. Ou seja: Juan, provinha de "Casa de Juan" ou dos devotos de São João Batista como era o caso de minha família paterna. São João Batista, aquele que anunciou e batizou Jesus, era muito querido por nosso povo. Pablo provinha da "Casa de Pablo" ou dos devotos de São Paulo, o grande guerreiro de Cristo e representava a minha família materna.
Nós éramos seguidores da tradição judaico-cristã, mas respeitávamos nossos antepassados e seguíamos as tradições da Igreja Ortodoxa Oriental. Isso destoava do que a Igreja Tradicional pregava na época, pois haviam as Guerras Santas e a disputa por territórios. Nossa família era de uma linhagem conhecida na Síria Tradicional, mas devido às perseguições aos Cristãos, nos mudamos para a Europa. Os árabes eram mouros e a maioria dos europeus eram cristãos. Nossa família estava dividida em uma guerra onde éramos "árabes" expatriados, não-mouros e com premissa cristã. Explico tudo isso para que vocês entendam como era difícil viver naquela época, onde não seguíamos a tradição da Pátria Muçulmana, mas não éramos considerados Cristãos.
Meu pai trabalhava com o comércio da madeira do castanheiro e por isso seu sobrenome passou a ser Castañeda. Quando minha família se mudou para a Europa eu era um adolescente e passei a auxiliar meu pai em seu ofício. Também comercializávamos jóias e outros artefatos. Viajávamos constantemente para evitar perseguições, pois assim evitariamos qualquer elo com as pessoas locais. Isso impedia que elas soubessem sobre nós ou nossas vidas.
Cresci entre muitos países,  conheci muitas culturas, mas nenhuma tão profunda e vasta quanto a nossa. Durante uma dessas viagens conheci a Cláudia Soares, com quem me casei anos mais tarde. Apesar de não ter nascido cigana, ela foi adotada pelo meu povo após a morte de seus pais. Nossa vida foi muito boa, mesmo enfrentando dificuldades e perseguições.  Mas, outra hora contarei sobre minha vida conjugal e o final de minha existência como "gitano". Hasta brevedad!

quinta-feira, 3 de março de 2016

Exu Cospe Fogo:

Guardião do Reino Umbralino Ígneo. Essa vida que vou narrar aconteceu no século IV, na antiga Capadócia. Eu me chamava Josué e era um simples aldeão do vilarejo. Nessa época Roma nos comandava e pagávamos altos impostos à Coroa. A maioria de nós se revoltava com essa condição, pois Roma abusava dessa situação e nos tratava como escravos.
Capadócia é um nome de origem hitita e significa "Terra de Belos Cavalos" (Katpadukya) e essa fama era verdadeira, pois criávamos excelentes cavalos de raça. Nossos cavalos eram considerados os melhores presentes e sempre eram dados aos maiores reis e comandantes dos diversos reinos. Isso despertava olhos cobiçosos sobre nós... (http://fuievolteipracontar.blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html)
Eu possuía uma pequena ferraria onde realizava consertos diversos, inclusive o ferrageamento dos cavalos. Na época não era costume colocar ferraduras nos cascos dos cavalos, pois muitos achavam que isso machucaria o animal. Então, muitos debatiam se era correto ou não ferragear um cavalo. Em nossas terras isso tornou-se usual e, com o tempo, muitos perceberam a vantagem do ferrageamento.
Durante essa existência eu tive o privilégio de acompanhar de perto uma das histórias mais fascinantes relatada até hoje... Eu conheci pessoalmente Jorge de Anicii, o santo que se tornaria uma espécie de patrimônio histórico da Umbanda! Muitos de vocês não sabem, mas o retrato de São Jorge montado em um cavalo branco combatendo o dragão se deve à Capadócia e uma suas lendas.
Como na Capadócia a criação de cavalos raros era nossa maior riqueza, o cavalo branco era considerado o emblema da região. Jorge era querido e amado por todos e foi presenteado com o melhor e mais belo cavalo de toda Capadócia! O dragão representava para nós o domínio romano e o imperador Diocleciano. A Princesa era a representação de todas as mulheres maltratadas e abusadas durante o comando imperial. E a Igrejinha refere-se a Cristo e à Igreja que foi construída em sua homenagem.
Quando a história de São Jorge aconteceu, muitos dos capadócios estavam inconformados com o domínio romano e resolveram lutar. Eu estava entre eles e fornecia espadas e lanças para a luta. Foi uma dura batalha, que se arrastou por muitos anos e que nunca teve um fim, pois nossa região era perseguida de muitas maneiras e quando uma guerra terminava, outra iniciava. Se saímos do domínio de Roma, caímos em outros domínios...
Eu morri lutando e nunca me arrependi de nada do que fiz. Forneci muitas armas para os meus compatriotas e fui um verdadeiro ferreiro. Hoje, eu sou um Cavaleiro da Ordem de São Miguel e de São Jorge e trabalho há muitos séculos por Eles e para Eles, servindo a Cristo. Também obedeço a Mãe de Todas as Nações: "Maria" - aquela que substituiu a crença na Grande Deusa pela fé em seu filho Jesus.
Nossa missão é resgatar as almas perdidas no fogo umbralino e ajudá-las a evoluir novamente. Também punimos e castigamos aqueles que fazem mal uso da fé e da crença no mundo em que vocês vivem. Somos nós os responsáveis por agir em todas as ações de homens-bomba, terroristas e religiosos que aplicam mal o conhecimento divino. 

Exu Pemba Negra:

Um Sentinela do Portal da Escuridão! Esse Exu viveu muitas vidas e muitas histórias, mas somente uma delas, ele nos permitiu contar e a narrou por si mesmo: "Eu vivi minha última existência em 1530, em Amsterdã, hoje Holanda. Muitos huguenotes, judeus e pagãos refugiaram-se em Amsterdã nessa época, por ser uma cidade com pouco contato com o mundo europeu. Porém, teve início uma guerra que durou oitenta anos e determinou o futuro de muitos 'holandeses'.
Eu era de uma família judaico-cristã, portanto, não tivemos problemas com a Igreja da Europa. Desde cedo frequentei abadias, conventos, monastérios e ordens eclesiásticas para estudar. Tornei-me um dos preferidos dos cardeais e passei a ter certos privilégios, como: aprender a manusear armas de todas as espécies e atuar como espião junto aos governos.
E assim, com a idade de 23 anos eu já era respeitado e requisitado por todos aqueles que queriam fazer uso de minhas habilidades de 'espião-duplo'. Vocês pensam que a espionagem é privilégio do tempo de vocês; mas, eu lhes digo, ela é tão velha quanto o próprio Salomão! (Basta ler na Bíblia que, o próprio Caim matou Abel, após espionar suas conversas com Deus.)
Bom, voltando à minha história, eu tornei-me um excelente espião e entregava literalmente a todos que, segundo minha crença, mereciam o justo castigo. Muitos foram aos calabouços, à forca, à tortura e à morte de diversas maneiras, por minhas mãos. Tornei-me especialista em denunciar e, quanto mais o fazia, menos remorso sentia! Eu até havia me afastado de meus pais e de meus irmãos.
Tornei-me um prisioneiro de mim mesmo e de minhas armadilhas. Mas, dizem, porém, que nosso destino nos procura e o meu bateu-me à porta. Conheci, nessa época, uma linda mulher, que afeiçoou-se a mim, tanto quanto eu a ela. Tornamo-nos amantes ardentes e nada mais nos importava. Esquecemos do mundo lá fora. Mas, não tardou para que eu vivesse o pior dos horrores...
Um dia fui chamado à presença do Cardeal Hispânico e este solicitou-me descobrir o paradeiro de uma jovem, que fora esposa de um Grão-duque da Toscana e fugiu sem deixar vestígios. Diziam ser ela uma "huguenote" e líder da rebelião nos países baixos, pois era descendente de uma importante família etrusca. Quando solicitavam-me o serviço eu nada perguntava, apenas executava-o.
E assim, busquei informações que me levaram ao paradeiro da moça. Surpreso descobri tratar-se da pessoa com quem me relacionava. Eu não sabia se aquilo era um teste da Igreja ou uma armadilha do destino. Por um tempo fiquei sem saber como proceder, até que decidi contar a ela toda a verdade sobre a minha pessoa. Percebi em seu olhar um brilho de pavor, quando lhe relatei a minha profissão. Mas, ela dormiu comigo mesmo assim... Porém, ao despertar pela manhã, não a vi. Procurei por toda parte e não a encontrei.
Ao retornar de minha missão precisava passar um relatório de viagem aos superiores, mas eu era tão vigiado, quanto pensava vigiar! Foi, então, que me declararam que ela encontrava-se presa e eu seria grandemente elogiado por entregá-la de maneira tão sutil e 'elegante'. Nessa hora eu percebi o golpe do destino e das autoridades: fui punido por mim mesmo!
Caí por terra, despenquei, precisava resgatá-la! Pedir clemência ao Cardeal não adiantaria, pois mulher adúltera não tinha perdão. E ela tinha dois agravantes: era huguenote e etrusca. Meu Deus, como colhemos o que plantamos! Eu consegui vê-la após alguns dias e seu estado era deplorável! Olhou-me nos olhos e sorriu, mas nada disse e foi a pior punhalada que recebi! Eu fui um covarde, eu não lutei naquele momento!
Eles sabiam que para libertá-la eu teria que entregar-me e, ao entregar-me, eu seria réu confesso e pagaria caro por esse crime de amor! Como se amar fosse um crime! As mortes que eu causei eram muito mais graves que meu amor por ela... Então, decidi lutar. Eu era excelente no que fazia e poderia libertá-la! Planejei tudo minuciosamente e em dia apropriado apliquei meu plano.
Mas, eles já sabiam e esperavam pelos acontecimentos. Eu fui preso e condenado como espião-duplo e traidor do reino. Como castigo puseram-me acorrentado em uma cela ao lado. Eu a vi ser maltratada dia após dia e nada pude fazer. Seu ex-marido comprazia-se em ver seu sofrimento ser aumentado gradativamente. Que dias terríveis foram aqueles!!! Pareciam não ter fim...
Então, chegou o dia da execução e ambos fomos levados em Praça Pública. Eles me forçaram a olhar para tudo o que fizeram com ela: enforcamento, esquartejamento e cremação. Por fim, eu fui degolado, pois era membro eclesiástico e minha sentença era proferida dessa forma. Eu e ela encontramo-nos do outro lado. Ela estava linda, translúcida, parecia uma Princesa de Luz. Ela seguiu seu caminho de iluminação e eu fiquei nas trevas.
Eu era um farrapo humano e muitos espíritos que persegui exigiam minha punição. Eu fui entregue a um grupo de vingadores para que fizessem o que quisessem comigo. Enquanto exigiam minha condenação, um senhor todo trajado de preto, com um manto a lhe cobrir da cabeça aos pés, aproximou-se do grupo. Percebi que o grupo silenciou e observou, pois respeitavam-no. Então, ele falou que meu destino já estava selado e eu devia cumprí-lo imediatamente. Tirou-me do meio deles e levou-me por um portal.
Chegamos a um pequeno Cemitério, onde ele determinou: -Você recolherá todas as almas que caírem nas Trevas da Ignorância. Depois, encaminhará cada uma delas ao seu desfecho final, dentro do Umbral. Seu nome a partir de hoje será Exu Pemba Negra - como um Guardião das Poeiras e dos Nevoeiros da Escuridão. Eu perguntei: -Por quanto tempo ficarei nessa tarefa? E ele respondeu: -Não há um tempo determinado...
A partir desse momento, eu 'desci' para cumprir minha missão de morte. Perdi o contato com minha família e com ela (a etrusca). Apenas sei onde vivem e o que fazem, mas não posso vê-los ou visitá-los. Ainda cumpro meu trabalho e sou solicitado a todo momento. Essa é minha história; é assim que eu vivo agora."

Exu Sete Capas da Jurema e Pombagira Rainha das Matas


Dois caminhos que se cruzaram e formaram uma só história.

Eles viveram no século XV, em meio ao caos da Inquisição e da Perseguição a todos aqueles que professassem uma religião ancestral. Ele era um soldado da Coroa Espanhola e trabalhava a serviço dos Inquisidores Negros. Ela era uma aprendiz da religião da Grande Deusa. Ele viajava muito para capturar os "traidores" da Coroa. Ela morava no norte da Irlanda, onde ainda se preservavam os costumes da religião pagã.
Quando ele passou pelo vilarejo a viu e trocaram olhares. Ela não sabia quem era aquele soldado ou o que ele fazia; muito menos ele desconfiou das suas tradições. Estavam apenas de passagem procurando vestígios da Antiga Religião e cúmplices dos rituais pagãos. Pernoitaram em uma pousada no vilarejo. Ela era a serviçal do local e o serviu durante todo o tempo em que ele esteve hospedado.
Dois dias depois, o regimento seguiu viagem para percorrer todo o território; mas, voltaram em alguns meses. Então, reencontraram-se e dessa vez decidiram estar juntos. Enquanto seu regimento seguiu viagem, ele ficou no Vilarejo por mais duas semanas. Conheceu os familiares dela e assumiram compromisso. Depois retornou à Espanha, para prosseguir com seu trabalho. Todo soldado da Inquisição trabalhava em sigilo, por isso ela não soube o que ele fazia. Os aldeões também guardavam segredo sobre suas práticas por medo de represálias.
Assim, eles assumiram um compromisso que estava entremeado ao destino de cada um... De seis em seis meses ele retornava ao Vilarejo para visitá-la. Marcaram as festividades para o casamento, que se realizaria dentro de um ano, pois ela ainda era menina-moça e ele precisava retornar para terminar alguns compromissos junto a Coroa Espanhola.
No decorrer desse tempo, a Inquisição Italiana assumiu a frente de capturar todos os seguidores da antiga religião e todos os Reinos passaram a servir ao Papado e a Aristocracia Romana. Eles não se viam há mais de três meses e muitas perseguições começaram a ocorrer durante esse período. Foi a época mais negra da história! O vilarejo foi devastado e ela foi levada em frente ao Tribunal da Inquisição Romana. Ele estava lá e a viu... Foi quando cada um soube a verdade sobre o outro.
Ele a procurou na prisão para conversar e ela lhe contou tudo. Ele ficou aflito, pois não sabia o que fazer e que atitude tomar... Tentou interceder por ela e explicou ao Sumo-Pontífice que ela era sua noiva e que nada tinha a ver com aquilo tudo; mas, foi em vão...  A sentença já estava decretada: ela seria decapitada como herege.
No dia da execução ele estava lá e quando o algoz ergueu o machado da execução, ele não se conteve: empunhou sua espada e subiu ao palco das condenações. Matou o algoz e cortou as cordas que prendiam sua amada. Porém, tudo foi em vão, porque em poucos minutos a guarda armada já havia cercado todo o tablado. O Bispo que a tudo assistia, insuflou a multidão dizendo: "Vejam: a feiticeira enfeitiçou nosso soldado! Queimem-na..."
Ela foi arrastada à fogueira e ele foi recolhido à masmorra, como traidor. Por ser soldado, não foi executado, mas terminou seus dias na prisão... Ela morreu em meio às chamas no centro da Cidade Romana. Encontraram-se anos depois no Plano Espiritual, para reconstruírem sua jornada juntos. Hoje, eles trabalham na Umbanda Sagrada e servem ao Amor Maior com dedicação e coragem.

Exu Rei das Cobras!

Esse Exu nasceu na África Medieval, nos tempos em que os Europeus começaram a desvendar os mistérios dos Sete Mares. Seu nome era Mustafah Mun Arah e ele era um exímio encantador de serpentes. Sabia como ninguém deslocar-se pelo deserto de Saara, encontrando oásis e água em abundância. Sua principal qualidade era saber a localização exata de jazidas de pedras preciosas e seus serviços eram solicitados pela Coroa Britânica e Espanhola.
Mustafah possuía em seus antepassados o cruzamento das raças orientais e egípcias, então seus olhos eram esverdeados e levemente puxados. O que lhe dava um aspecto similar aos olhos das cobras. Ele sabia encantá-las, utilizando seu veneno em curas diversas e por isso chamavam-no "O Rei das Cobras" - apelido que o seguiu após o desencarne.
Viveu muitos anos bons ajudando os conquistadores a encontrar as jazidas de pedras preciosas. Morreu em um dos combates entre os mamelucos abássidas, servidores dos Califas Otomanos, e o exército Franco-espanhol, na conquista do ouro ocidental africano.

Exu Tranca Ruas das Almas!

"Exu que é Exu trabalha e não enrola..." Exu Tranca Ruas é um dos mais conhecidos e cultuados dentro da Umbanda Sagrada e também um dos mais "comentados" fora das giras. Sempre se canta pra ele na abertura de um trabalho... Ele é aquele que tranca e destranca um lugar, um caminho ou uma situação.
O Exu Tranca Ruas desta seara trabalha nas Linhas de Ogun e Omulu, servindo a Falange das Almas, fazendo "puxadas" como ninguém. Ou, como ele mesmo diz: "Sou bom em tirar o mal do couro dos outros!"</>
Esse Exu viveu no Brasil Colônia e foi um senhor feudal, dono de muitas terras e muitos escravos, enriqueceu muito, conheceu o bem e o mal de perto e viveu muitos anos. Ao desencarnar, o bem era sua soma de méritos de muitas vidas e o mal representava sua dívida com a humanidade. Quis pagar... Pediu para ser um servo daqueles a quem perseguiu. E assim foi...
Hoje é respeitado e honrado, cumpriu seu dever e pode seguir sua jornada, mas preferiu ficar trabalhando como Exu, para continuar servindo a Umbanda e a todos que dele precisarem. Segundo ele, Exu não tem nome, Exu não tem história, Exu apenas faz! É assim Exu: muitas vezes temido, muitas vezes aclamado, mas sempre necessário!

Exu Marabô:

O Guardião da Floresta... O Senhor Exu Marabô ou Barabô, costuma ser sisudo, de pouca fala e muita ação. Ele apresenta-se nos trabalhos quando se  faz necessário purificar, energizar ou transmutar as energias de um ambiente. Ele é um guardião das reservas fluídicas do planeta. Sua ação é rápida e eficaz.
O Exu Marabô desta Seara já foi um grande e nobre guerreiro do Reino Francês. Lutou muitas guerras e venceu muitas batalhas. Sabia a arte de curar ferimentos de guerra - herança de seus antepassados nórdicos. Quando a França firmou seu reino, ele tornou-se um servo fiel da coroa, servindo ao Rei e aos Ministros, tornando-se um dos conselheiros. Em idade avançada passou a estudar medicina oculta e dedicou-se a assuntos esotéricos. Fez parte de Sociedades Secretas e serviu a diversas Ordens e Facções.
Marabô trabalha na Linha de Oxóssi, auxiliando a transformar as energias herbáceas e florais dos amacis e boris. Ele também atua em limpezas e curas diversas, durante o trabalho mediúnico, mesmo sem incorporação ou à distância. Quem possui um Exu Marabô em seus trabalhos, tem um fiel escudeiro!