Caboclo Pena Branca |
"As entidades espirituais são as mesmas, a mudança das formas de apresentação varia consoante a necessidade dos trabalhos e o ambiente."
Findley, o grande sábio inglês, uma das glórias científicas, que realizava admiráveis sessões de voz direta em Londres, confessa em sua obra “No limiar do etéreo” que estranhava e até ficava irritado por ver nessas reuniões, a que compareciam espíritos da mais elevada cultura, mestres sublimados, a direção inicial era dada a um ser cujo linguajar, modos bruscos e atitudes autoritárias revelavam tratar-se de um espirito atrasado, que se dizia Caboclo Pena Branca.
Foi tal sua ojeriza que um dia reclamou de um dos mestres essa presença, ouvindo então que sem o Caboclo Pena Branca nada poderiam fazer, pois ela era o mentor do grupo.
As entidades espirituais são as mesmas, a mudança das formas de apresentação varia consoante a necessidade dos trabalhos e o ambiente.
Carlos de Azevedo - texto do livro Umbanda: religião do Brasil, publicado pela Editora Obelisco em 1968 -
Por um artificio, mais literário do que lógico, costumamos situar em posições extremas as tendências que não caminham de mãos dadas na vida. Mas, se nos detivermos em serena meditação analítica, verificaremos que só aparentemente são opostos os extremos, isso na ciência, nas artes e nas religiões, pois nenhuma voz e nenhuma ação nesses campos de meditação e do sentimento deixam de ser uma afirmação de vida.
Essa é uma verdade que se perde nos confins milenários de eras remotas. Pta-hoep, que viveu mais de três mil anos antes de Cristo, filósofo que foi ministro do faraó, dizia que: “tudo é duplo; tudo tem dois polos; tudo tem seu oposto; os opostos são idênticos em natureza e diversos em grau; os extremos se tocam; os paradoxos se reconciliam em manifesta forma os opostos se reúnem”.
Todos caminham para o mesmo fim, com o mesmo conteúdo sentimental, com suas cambiantes de amor, de felicidade e de crença, todos são cavaleiros andantes de perpetuação da vida, igualmente heróis do mesmo exército: o amor.
Que importa existam múltiplos rituais desde que seja um só espiritualismo?
Os valores da contribuição nos diversos ritos constituem a formação de quadros educativos que tem, todos eles, os mesmos obreiros silenciosos, aqueles que comungam das tarefas gerais - os espíritos do lado de lá. ( grifo nosso )
Certa vez, quando Chefe de Policia o coronel João Alberto, fomos convocados para uma reunião cujo fim era o de traçar rumos tendentes a estabelecer um critério uniforme quanto à pratica do espiritismo. Entre outros representantes das diversas organizações estávamos eu e o Presidente da Federação Espirita.
No gabinete do Chefe, enquanto aguardávamos sua chegada, palestrávamos sobre assuntos espiritualistas, sendo que eu discordava radicalmente dos propósitos da reunião, pois que, sendo leigo o Estado, qualquer intromissão da autoridade nos Centros Espiritas não só era ilegal, inconstitucional, como ainda criminosa face o Código Penal, ponto de vista esse que foi vitorioso e deu em resultado a revogação de uma portaria sobre o assunto.
Durante a tertulia ouvi do Presidente da Federação Espirita o seguinte e eloquente episódio:
Essa é uma verdade que se perde nos confins milenários de eras remotas. Pta-hoep, que viveu mais de três mil anos antes de Cristo, filósofo que foi ministro do faraó, dizia que: “tudo é duplo; tudo tem dois polos; tudo tem seu oposto; os opostos são idênticos em natureza e diversos em grau; os extremos se tocam; os paradoxos se reconciliam em manifesta forma os opostos se reúnem”.
Todos caminham para o mesmo fim, com o mesmo conteúdo sentimental, com suas cambiantes de amor, de felicidade e de crença, todos são cavaleiros andantes de perpetuação da vida, igualmente heróis do mesmo exército: o amor.
Que importa existam múltiplos rituais desde que seja um só espiritualismo?
Os valores da contribuição nos diversos ritos constituem a formação de quadros educativos que tem, todos eles, os mesmos obreiros silenciosos, aqueles que comungam das tarefas gerais - os espíritos do lado de lá. ( grifo nosso )
Certa vez, quando Chefe de Policia o coronel João Alberto, fomos convocados para uma reunião cujo fim era o de traçar rumos tendentes a estabelecer um critério uniforme quanto à pratica do espiritismo. Entre outros representantes das diversas organizações estávamos eu e o Presidente da Federação Espirita.
No gabinete do Chefe, enquanto aguardávamos sua chegada, palestrávamos sobre assuntos espiritualistas, sendo que eu discordava radicalmente dos propósitos da reunião, pois que, sendo leigo o Estado, qualquer intromissão da autoridade nos Centros Espiritas não só era ilegal, inconstitucional, como ainda criminosa face o Código Penal, ponto de vista esse que foi vitorioso e deu em resultado a revogação de uma portaria sobre o assunto.
Durante a tertulia ouvi do Presidente da Federação Espirita o seguinte e eloquente episódio:
– eu recebera diversos convites de um centro de Umbanda, por intermédio de pessoa amiga, para assistir a uma reunião de suas práticas, sempre me esquivando, pois entendia que o umbandismo era “baixo espiritismo”. Certa ocasião foi-me impossível deixar de atender a um desses convites. Durante a reunião, vendo médiuns manifestados, fumando charutos e falando um vocabulário eivado de erros, a minha decepção era tal que cheguei a me tomar de piedade profunda por aqueles seres atrasados e aquelas práticas que eu reputava inferiores. E maior foi a minha convicção quando o Guia Chefe do terreiro pôs-se a dizer que minha fazenda estava com a divisa errada e que eu devia aceitar a proposta que fora feita para vendê-la ao vizinho confinante. Contestei que minha propriedade estava certa, que meu irmão a administrava e nenhuma proposta de venda fora feita. O Guia insistiu em suas afirmativas e no conselho da venda, para evitar uma triste demanda.
Deixei o terreiro com o pensamento firme de que se fazia mister impedir reuniões como essa, pois os chamados guias eram seres atrasados e até tratando de assuntos materiais e inverídicos.
Na primeira reunião da Federação falei ao nosso Guia espiritual sobre o que vira e ouvira e com surpresa ouvi dessa entidade que aquele espírito com a forma de preto velho e que me dera aqueles conselhos era ele mesmo, o nosso amado mentor.
Dias depois chegou meu irmão ao Rio trazendo a proposta do vizinho e declarando-me que de fato as divisas da propriedade estavam erradas. Vendi-a sem discutir.
O ritual da Federação Espirita tão diverso daquele humilde terreiro era apenas aparência, pois a contribuição do obreiro espiritual era a mesma, o ser valoroso o mesmo, os fins educativos e de caridade igualíssimos.
Deixei o terreiro com o pensamento firme de que se fazia mister impedir reuniões como essa, pois os chamados guias eram seres atrasados e até tratando de assuntos materiais e inverídicos.
Na primeira reunião da Federação falei ao nosso Guia espiritual sobre o que vira e ouvira e com surpresa ouvi dessa entidade que aquele espírito com a forma de preto velho e que me dera aqueles conselhos era ele mesmo, o nosso amado mentor.
Dias depois chegou meu irmão ao Rio trazendo a proposta do vizinho e declarando-me que de fato as divisas da propriedade estavam erradas. Vendi-a sem discutir.
O ritual da Federação Espirita tão diverso daquele humilde terreiro era apenas aparência, pois a contribuição do obreiro espiritual era a mesma, o ser valoroso o mesmo, os fins educativos e de caridade igualíssimos.
Findley, o grande sábio inglês, uma das glórias científicas, que realizava admiráveis sessões de voz direta em Londres, confessa em sua obra “No limiar do etéreo” que estranhava e até ficava irritado por ver nessas reuniões, a que compareciam espíritos da mais elevada cultura, mestres sublimados, a direção inicial era dada a um ser cujo linguajar, modos bruscos e atitudes autoritárias revelavam tratar-se de um espirito atrasado, que se dizia Caboclo Pena Branca.
Foi tal sua ojeriza que um dia reclamou de um dos mestres essa presença, ouvindo então que sem o Caboclo Pena Branca nada poderiam fazer, pois ela era o mentor do grupo.
As entidades espirituais são as mesmas, a mudança das formas de apresentação varia consoante a necessidade dos trabalhos e o ambiente.
Carlos de Azevedo - texto do livro Umbanda: religião do Brasil, publicado pela Editora Obelisco em 1968 -
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