Eis que eu estou indo almoçar perto do cemitério da Vila Mariana e um mendigo me aborda na rua pedindo um prato de comida. Nunca dou dinheiro, mas é muito comum eu comprar pão, sanduíches, leite ou comida para pedintes quando vou no supermercado na Liberdade e tem sempre algum pedinte no caminho.
Como ele não estava bêbado nem em trapos, não teria problema em entrar no restaurante. Ao invés de só comprar um lanche, acabei almoçando com ele. Ele me contou que trabalhava como carroceiro e que chegou até a ser casado, “com a mulher da vida dele”, mas que eles brigavam muito por causa da bebida e ela o largou, e acabou morrendo de alguma doença um tempo depois. Ele se sentiu culpado, disse que se ele estivesse do lado dela ela não teria ficado doente, e largou a bebida. Depois, acabou se mudando ali para a região do cemitério, onde faz uns bicos ajudando nas floriculturas e tomando conta dos carros. E todo dia ele ia visitar a esposa antes de voltar pro barraco. Ele perguntou se eu era casado e, quando falei que sim, disse pra eu sempre tomar conta da minha esposa.
Antes de nos despedirmos, peguei uma das rosas vermelhas do buque da Maria Navalha que estava comigo e entreguei pra ele. Falei pra dar de presente pra esposa, que ela iria gostar. Ele agradeceu e saiu, em direção do portão do cemitério, cantarolando baixinho:
“Portão de ferro
Cadeado de madeira
Na porta do cemitério
Eu vou chamar Tatá Caveira“
Não teve como não lembrar das palavras do Seu Tatá Caveira no domingo: “Pode deixar, filho… você cuida dos meus que eu cuido dos seus…”
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